‘Minha esposa vai morar comigo aqui’
Revelado no Fluminense e com a experiência de quem já defendeu Benfica, Corinthians, Flamengo, Grêmio e clubes do Qatar, o meia Roger, de 31 anos, revelou na tarde desta quinta-feira, quando foi apresentado pelo Cruzeiro, que sempre alimentou o sonho de vestir a camisa celeste. E o desejo pode continuar realidade até o fim de 2012, uma vez que o jogador assinará um contrato de três anos de duração com o clube mineiro.
– O Cruzeiro talvez seja o clube mais organizado do Brasil, e a minha mãe (Geuse Galera) sabe que era um sonho antigo meu jogar aqui – contou o meia, durante a entrevista coletiva na Toca da Raposa 2.
Ao falar do início das negociações, Roger contou uma história engraçada sobre um e-mail que recebeu em 2009. A mensagem tratava do interesse celeste, mas ele pensou que era um convite para um cruzeiro de navio na Europa.
- Foi engraçado, mas fiquei mais feliz quando vi que, na verdade, era o interesse de um grande clube – disse, rindo da própria confusão.
Na coletiva, o meia garantiu que volta mudado do Qatar, no sentido de como vê a vida, as pessoas e o mundo. Mais maduro, admite que a seleção brasileira não passa de uma utopia. Sem saber quando estará pronto para a estrear com a camisa cruzeirense, ele elogiou o elenco celeste e disse que acredita na conquista do título da Taça Libertadores.
De quebra, deu uma boa notícia para a ala masculina da torcida: sua esposa, a atriz Deborah Secco, vai morar em Belo Horizonte. Confira os principais trechos da entrevista.
Contrato de três anos
"A responsabilidade é grande, principalmente vestindo a camisa do Cruzeiro. O elenco é muito bom, e vou ter de me empenhar muito para conseguir uma vaga (de titular). Venho para somar e ajudar".
Elogios da diretoria celeste
"Ser elogiado é bom, mas preciso fazer por merecer dentro de campo. O trabalho vai ser total a partir de terça-feira, com toda a atenção para fazer jus aos elogios. Eles não ganham nada, mas é bom recebê-los, sim".
Cruzeiro na Europa x Jogar no Cruzeiro
"Foi engraçado. Não passava pela minha cabeça voltar agora, tinha até sido sondado por outros times, mas em dezembro recebi um e-mail de uma pessoa ligada a mim e também a alguém do clube. Não vou citar nomes. O assunto era o Cruzeiro, e eu pensei que queria nos convidar para fazer um cruzeiro na Europa. Falei com minha esposa, e ela disse que iríamos se tivéssemos tempo. Eu já estava feliz, mas fiquei muito mais feliz ao ler o e-mail completo, porque se tratava do interesse de um grande clube, no qual sempre tive uma vontade grande de jogar.
"O Cruzeiro talvez seja o mais organizado do Brasil, o que dá mais condições de se fazer um trabalho sério e bom. Respondi na hora que tinha interesse também. Coloquei as condições. Disse que meu contrato terminaria só em julho e perguntei se se era viável um pré-contrato para seis meses antes. Tudo dá certo quando a vontade das duas partes prevalece. Fizeram uma proposta para mim, e ela foi prontamente aceita, porque estava de acordo com aquilo que esperava. Assinamos o contrato, e aí comecei uma minha árdua caminhada para tentar a liberação".
Deborah Secco em BH
"Minha família me apoia cem por cento em qualquer decisão. Coloco tudo na mesa para a minha esposa, minha mãe e minha filha, tudo para saber a opinião delas, pois não sou o dono da verdade. É bom ter por perto as pessoas que nos amam, e elas me ajudaram na decisão. Todas assinaram embaixo, são fãs do Cruzeiro, sabem da tradição, do que representa para mim jogar aqui.
"Minha mãe já sabia desse meu desejo antigo. E minha esposa, claro, vai morar comigo. Ela tem o emprego dela, vive no Rio, mas nossa casa será aqui (em Belo Horizonte). Ela vai se esforçar, tentando estar aqui e lá ao mesmo tempo. Mas quando eu parar de jogar, ela vai ter de me sustentar, então não ela pode abrir mão das coisas dela".
Estreia pelo Cruzeiro
"Minha última partida (pelo Al-Sailiya) foi no dia 30 de janeiro. Estava lá há quase dois anos, e a exigência é outra, uma competição diferente. Lá você joga 30 partidas num ano, e aqui é o dobro. Pelo menos. Mas temos profissionais capacitados para me deixarem pronto o mais rapidamente possível. É melhor perder um pouquinho de tempo no início para, quando começar a jogar, entrar pronto para a temporada inteira. Se depender da minha vontade, quero jogar logo, mas vou controlar a ansiedade para não me atrapalhar futuramente".
Roger e Cruzeiro, tudo a ver
"O torcedor gosta do bom futebol, mas o ser humano é adaptável, se adapta a qualquer situação, desde que se entregue. Tenho de me adaptar, ser o mais aberto possível. Mas isso não tem como explicar muito. No Grêmio, era o contrário, as perguntas eram diferentes. Diziam que era um time de tradição de luta, briga, sofrimento, e me perguntavam se eu iria me adaptar. Falei a mesma coisa. É se abrindo, se doando, tentando o mais rapidamente se encontrar. Fiquei seis meses no Grêmio, fui ídolo, bem tratado em Porto Alegre. No Cruzeiro, o jogo me favorece, tem um treinador que joga para frente. Mas isso vai depender muito do que eu fizer."
Função em campo
"Minha posição de origem é de meia, centralizado mesmo, atrás dos atacantes. Jogava como atacante no Catar, até de costas para a defesa. Já fiz também a trinca de volantes, pela esquerda. São posições que me agradam, mas vai depender do treinador (Adilson Batista). Mas essas três posições me favorecem".
Estadual como preparação
"O Campeonato Mineiro é importante, mas não tanto quanto a Libertadores. Só que o Cruzeiro está buscando o tri (estadual). São duas competições que correm paralelamente. Como eu jogava de dez em dez dias, às vezes 15 em 15 dias, treinava uma vez por dia. Assim, os preparadores físicos vão analisar a minha situação, ver em que pé eu estou".
O elenco cruzeirense
"Estive com o Soares no Grêmio, com o Fabrício no Corinthians, com o Gilberto, que é do Rio. Com o resto do pessoal eu vou me enturmando. Já conheço muitos de nome, claro, e o elenco do Cruzeiro é todo conhecido, tem muita qualidade".
A Raposa na Libertadores
"A camisa pesa bastante, e o time não ganhou ano passado por detalhes. Às vezes, nem sempre o melhor vence, mas espero que o Cruzeiro faça uma grande campanha novamente. A base é a mesma. A chave - Grupo 7, que reúne Vélez Sarsfield, Colo-Colo e Deportivo Itália - é muito difícil. Tenho uma experiência com o Corinthians (na Taça Libertadores de 2006), e nossa chave também era difícil. Tinha Deportivo Cáli, Universidad Católica e Tigres, mas fizemos a segunda ou a terceira melhor campanha (na fase de classificação).
"Ganhar desses times fortaleza. O Cruzeiro tem tudo para brigar pelo título, mas é uma etapa de cada vez. Tem de sonhar grande. Assisti ao jogo (Cruzeiro 7 x 0 Real Potosí). Peguei a metade do primeiro tempo e o segundo tempo inteiro. Fiquei impressionado com a velocidade do time, a movimentação, a troca de posições. Com toda essa qualidade, espero me encaixar bem, respeitando todo mundo. Tentarei ser uma peça importante".
Expectativa e adaptação
"O Corinthians montou a equipe durante a temporada (2005) e conseguiu ser campeão (brasileiro). OCruzeiro já tem uma base pronta e entrosada. É um time de qualidade. Eu sou uma peça que está chegando e precisa da ajuda do grupo. Mas acho que a facilidade é maior para o entrosamento, porque a equipe tem essa base construída e um treinador que conhece bastante".
Adilson Batista, o zagueiro
Me lembro dele jogando. A gente deve ter jogado contra em 1999, 2000. Era um zagueiro clássico, chegava duro (risos). Mas vi mais pela televisão. Gostava de vê-lo jogar, exercia uma liderança em campo, assim como exerce agora como técnico.
Seleção brasileira
"Sonho é sonho. Posso sonhar, mas tenho os pés no chão. Sei que é difícil para mim. Pelo que vem fazendo no Cruzeiro e pelo que joga, o Kléber tem muitas condições de chegar lá. Para mim é mais difícil. Não sou convocado há muito tempo e ainda passei dois anos no Catar. Minha prioridade é trabalhar muito aqui para estrear o quanto antes".
Aprendizado e experiência no Catar
"Em relação ao estilo de jogo, não mudou tanto. A diferença é que se pensa da vida. Fiquei dois anos sozinho e tive de lidar com a saudade em uma cultura diferente. Quando se chega lá, tudo é diferente. A importância que dão para a oração, que é uma obrigação, a maneira como se alimentam e se vestem.
"O choque cultural é grande, mas aí é preciso tentar entender o porquê de tudo ser tão diferente, assim aprendemos a respeitar as diferenças. No fim, é praticamente igual. O que muda são as pequenas coisas, que visualmente te chocam mais. Mas o ser humano é igual em toda parte. EQuando saí de lá, eles ainda fizeram festa para mim, com placa e bolo. Mas agora a minha vida é aqui. E coisas boas vão acontecer".
Fonte: Globo Esporte
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