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"Sei que vou ser sempre criticada", diz Deborah Secco

Intérprete da alpinista social Maria do Céu de A Favorita, Deborah Secco não se cansa de enaltecer as possibilidades dramáticas do papel e o destaque que conseguiu. Mesmo sem fazer parte da trama central da história. "A Céu vai de retirante que surge na boléia de um caminhão a perua casada com marido rico e gay", empolga-se. Para cortar a onda de bom-humor, só mesmo um assunto: as críticas que, segundo a própria, já está mais que acostumada a receber quando aparece na TV. "Vai ser sempre assim. Mas tudo bem, só falam de quem chama atenção em algum sentido", desconversa.
A segurança de Deborah, dessa vez, tem motivo especial. Desde a estréia de A Favorita, a atriz já recebeu inúmeros elogios do autor João Emanuel Carneiro. Alguns até públicos. E é nisso que a atriz se baseia na hora de entrar em cena. "Dou muito valor ao que as pessoas que trabalham comigo acham de mim. Até agora, não me pediram para fazer nada diferente", defende-se.

A Céu começou a novela na boléia de um caminhão, se revoltou contra o pai, tentou arrumar um marido rico, se casou com um gay e está grávida do namorado da mocinha da novela. Como você lidou com tantas mudanças na trajetória da personagem?
Todos os trabalhos têm nuances, momentos distintos. Mas o texto do João Emanuel Carneiro é mesmo rápido. Em algumas situações, precisei parar para pensar, estudar, experimentar o que poderia funcionar. A relação dela com o Halley, do Cauã Reymond, por exemplo. Em um capítulo eles se viram e ele falou que ela era linda. Logo depois eles já estavam transando e conversando como amigos íntimos. A gente sentou, discutiu, debateu com a direção. Acho que a parte legal do trabalho de atriz é essa: construir formas de sair de um extremo ao outro sem que as coisas fujam do rumo.

E você acha que conseguiu isso em todos os momentos?
Recebo elogios de toda a equipe. Claro que algumas seqüências são mais difíceis do que outras. Uma das características da Céu que mais trabalhei foi a relação dela com o Cassiano. Isso não estava previsto na sinopse, o João decidiu usar porque achou que era um casal com uma química boa. Então fui buscar esse lado da entrega, esse amor incondicional que tenho de passar no ar mesmo interpretando uma mulher forte e, em várias situações, até dura. Criei um olhar que eu chamo de infinito, além de uma forma de falar mais doce. Como a Céu tinha cenas muito fortes com o pai, aproveitei para fazer aquela menina virar frágil nesse aspecto romântico.

Mas você vem recebendo muitas críticas a esse trabalho...
Não leio essas coisas. Procuro não me apegar. As críticas que eu acho importantes são as do diretor, Ricardo Waddington, ou do João, que escreve a história. Também ouço muito o que meus colegas de estúdio falam. Essas pessoas têm total liberdade para falar qualquer coisa. E, curiosamente, não me pediram nada diferente do que eu já estava fazendo. Os críticos falam que a personagem mudou demais, que ficou esperta. Não concordo, a idéia era mesmo mostrar a vida de uma menina que sai do interior para uma cidade grande e, assim que ganha algum dinheiro, se comporta com exageros. É complicado você dimensionar prazos em novela. Tiveram algumas passagens de tempo na trama e as pessoas nem notaram. Só a viagem da Lara para a França durou dois meses. Sei que vou ser sempre criticada.

Por quê?
Não sei o motivo. Na verdade, acho que todos os papéis que eu pego são polêmicos. Não agradam 100%. Antigamente eu ficava magoada, tentava enxergar aquelas coisas, mas hoje acredito que só falam de quem chama atenção em algum sentido. Nessa novela, por exemplo, as críticas surgiram quando eu aparecia em uma, duas cenas por semana. Nem me viam direito no ar e já estavam criticando. Falei duas frases e fui massacrada. Que bom que chamo essa atenção em tão pouco tempo. Só no capítulo 42 minha personagem conheceu o Cassiano e se mudou para Triunfo, mas eu já chamava mais atenção que as pessoas que estavam fazendo trinta cenas por capítulo. É assim que eu encaro.

Na sinopse da novela, a Céu não tinha qualquer relação com a trama central. Isso incomodou você?
Não, sempre soube que era uma trama paralela mesmo. Mas na minha carreira tive grandes personagens com essas condições. Aprendi a não me apegar a rótulos. A Sol, em América, que era uma protagonista, me rendeu frutos tão bons quanto a Darlene, de Celebridade, ou a Íris, de Laços de Família. O mais importante é a consistência dramática que o papel carrega e o que você pode construir em cima disso. Desde o início eu vi que a Céu seria um bom aprendizado nesse sentido. Existem várias personagens em uma só ali.

Nesse caso, o fato da Céu não ter se tornado prostituta decepcionou você?
Não. É claro que daria para trabalhar coisas bem legais em cima, mas achei coerente da parte do autor. Já que o João decidiu investir em uma relação entre a Céu e o Cassiano, não dava para colocá-la depois transando por dinheiro. Isso condenaria de cara qualquer possibilidade de final feliz entre os dois. Além disso, deu muito certo a idéia de deixar o Iran Malfitano na novela e unir a Céu ao Orlandinho. Abriu possibilidades para eu trabalhar, a partir da mesma personagem, momentos dramáticos, românticos e extremamente engraçados. Para mim, foi excelente, um exercício tão forte quanto o que tive em América. E fiz uma participação há pouco tempo em Paraíso Tropical como uma prostituta.

Você citou a Sol, de América, sua única protagonista no horário nobre, mas a novela teve vários problemas e sua interpretação foi questionada na época. Isso mexeu com sua auto-estima?
A Sol é um dos meus trabalhos preferidos. Eu não faria nada diferente. América é uma novela que eu vejo, revejo e adoro sempre. Acho que a história era boa, as cenas da Sol com o Ed, do Caco Ciocler, eram lindas, e até hoje comentam comigo nas ruas. Principalmente as crianças. Já passou o tempo em que eu ficava abalada com essas "condenações". Me preocupo em agradar as pessoas que idealizaram a novela.

Quando exatamente você parou de se preocupar com isso?
Eu tive de me acostumar com essas reações desde cedo na Globo. Minha segunda novela na emissora, A Próxima Vítima, foi marcada por uma antipatia muito forte por parte da mídia. Fui eleita a pior atriz do ano com apenas 15 anos de idade. Isso mexe com você. As pessoas pegavam muito no meu pé porque a personagem vivia usando a expressão "socorro!". E a idéia de usar aquela gíria nem era minha. O Sílvio de Abreu, que escrevia a novela, tirou aquilo do vocabulário da filha dele e resolveu usar. Acho que pegaram pesado comigo. Até porque eu era muito nova, não tinha idéia do que era superexposição, por exemplo. Mas de tudo a gente tira algo de bom.

A Favorita - Globo - Segunda a sábado, às 21h.

Outras direções
Depois de 18 anos de carreira na TV, Deborah Secco repensa suas aparições constantes em novelas. A atriz estreou ainda criança, aos 10 anos, na novela Mico Preto, em 1990. E emenda um trabalho em outro desde que fez sucesso na pele da caçula Carol, uma das protagonistas da série "Confissões de Adolescente", em 1994. Tanto que, em 13 anos, marcou presença em 13 novelas e uma minissérie na Globo. "Nunca estive parada desde que entrei na Globo. Poucas atrizes da minha geração trabalharam como eu", valoriza a jovem.
Exatamente por isso Deborah já planeja um período longo fora dos folhetins. Sua idéia é pedir uma pausa no contrato, que vai até 2012, para, até 2010, voltar aos palcos com algum espetáculo teatral. "Não posso dizer o nome porque ainda não comprei os direitos", desconversa. A atriz não sabe dizer exatamente quando pretende pedir esse tempo, mas demonstra que não vê a hora de poder se dedicar mais à sua formação teatral. "Não faço uma peça desde 2001, quando me dividi entre 'A Padroeira' e 'As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant'. Quero muito voltar, mas não consigo conciliar com a TV", justifica.

Falta de drama
Ao falar sobre seu trabalho em A Favorita, Deborah só é capaz de lamentar uma coisa: o esvaziamento de núcleo familiar de sua personagem. Para a atriz, as cenas mais fortes de Maria do Céu aconteceram nos conflitos com Edivaldo, seu pai, interpretado por Nélson Xavier, e com a irmã Greice, de Roberta Gualda. "Outro dia gravei com a Roberta e muitas pessoas na rua me disseram que choraram com a cena", valoriza.
Segundo ela, o envolvimento nas cenas era tanto que, após a morte de Edivaldo, o próprio Nélson escreveu-lhe uma carta. No documento, desculpava-se por não ter a capacidade de construir um personagem rude e violento, para que Céu não saísse como vilã da história. "Falei para ele que ia colocar numa moldura e guardar para o resto da vida", orgulha-se.

Trajetória televisiva
#Mico Preto (Globo, 1990) - Denise.
#Confissões de Adolescente (TV Cultura, 1994) - Carol.
#A Próxima Vítima (Globo, 1995) - Carina Rossi.
#Vira Lata (Globo, 1996) - Tatu.
#Zazá (Globo, 1997) - Dora.
#Era Uma Vez... (Globo, 1998) - Emília.
#Suave Veneno (Globo, 1999) - Marina.
#A Invenção do Brasil (Globo, 2000) - Moema.
#Laços de Família (Globo, 2000) - Iris.
#A Padroeira (Globo, 2001) - Cecília de Sá.
#O Beijo do Vampiro (Globo, 2002) - Lara.
#Celebridade (Globo, 2003/2004) - Darlene Sampaio.
#América (Globo, 2005) - Sol.
#Pé na Jaca (Globo, 2006/2007) - Elizabeth.
#Paraíso Tropical (Globo, 2007) - Betina.
#A Favorita (Globo, 2008) - Maria do Céu.


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